Sudanesa vivendo como deslocada interna num acampamento em El Fasher, no norte de Darfur. Foto: ONU/Gonzalez Farran
A ação humanitária oferece a oportunidade de salvar vidas, diminuir o sofrimento e manter a dignidade humana durante e depois de crises provocadas pelo ser humano e por desastres naturais. Ela também oferece a chance de prevenir emergências futuras e fortalecer a preparação para esses eventos.
Há 25 anos, a pedido dos Estados-membros, a ONU Meio Ambiente e o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) formaram a Unidade Conjunta de Meio Ambiente. O objetivo do organismo era responder às dimensões ambientais das emergências, coordenado esforços internacionais e mobilizando parceiros para auxiliar os países e comunidades afetados.
“O nosso papel na unidade era reunir diferentes atores e parceiros e alcançar uma linguagem comum”, afirma Vladimir Sakharov, o primeiro chefe da Unidade Conjunta de Meio Ambiente. “Isso exige imaginação e invenção, flexibilidade e, eu diria, coragem”, acrescenta.
O trabalho da Unidade lida com as dimensões ambientais das emergências, oferecendo apoio técnico, ferramentas e orientação para conduzir avaliações rápidas e ampliar a sustentabilidade da ação humanitária.
Para celebrar as duas décadas e meia de atividades, a ONU Meio Ambiente lembra cinco emergências — entre 200 missões já concluídas até hoje — em que a Unidade pôde aplicar seus conhecimentos:
Em julho de 2004, oito pessoas morreram e 13 ficaram seriamente feridas durante o desabamento parcial da mina de urânio de Shinkolobwe, na República Democrática do Congo.
A Unidade Conjunta de Meio Ambiente organizou e realizou uma avaliação multidisciplinar do desabamento, com especialistas em mineração, meio ambiente, contaminação radioativa e saúde ambiental.
“Como tínhamos especialistas de várias disciplinas diferentes dentro da nossa equipe, nós pudemos olhar todos os aspectos do desabamento e, então, dar às autoridades recomendações sore como minimizar os riscos ambientais e melhorar a aplicação dos padrões de segurança, protegendo as pessoas locais, especialmente as crianças”, conta Rene Nijenhuis, o então oficial encarregado da Unidade.
Em 2002 e 2004, o duradouro conflito étnico na região de Darfur, no Sudão, degringolou para uma guerra aberta, forçando 1,6 milhão de pessoas a fugir de suas casas. A maioria dos indivíduos deslocados internamente foi abrigada em campos temporários dentro de Darfur, onde a presença da população colocou pressão sobre os já escassos recursos ambientais.
A Unidade Conjunta de Meio Ambiente conduziu, com parceiros, uma rápida avaliação em três campos e identificou o aparecimento de sérios problemas.
“A avaliação de Darfur confirmou que os principais impactos ambientais negativos surgem da necessidade, movida por (uma questão de) sobrevivência, de explorar recursos naturais, da gestão inadequada de resíduos e da falta de saneamento próprio, capaz de ameaçar vidas. Enfrentar essas e outras preocupações ambientais precisa fazer parte do planejamento e gestão do campo”, aponta Charles Kelly, líder do projeto de avaliação rápida de impacto ambiental.
Em agosto de 2006, substâncias perigosas foram despejadas em várias localidades de Abidjan, capital da Costa do Marfim. Em setembro, uma equipe de Avaliação e Coordenação de Desastres das Nações Unidas foi enviada para auxiliar.
A equipe identificou até 18 locais de despejo e confirmou a toxicidade dos químicos encontrados.
Na sequência, a Unidade Conjunta de Meio Ambiente participou de uma missão da ONU de apoio à preparação para emergências, durante a qual ficou acordado que o plano futuro de contingenciamento de desastres incluiria o meio ambiente como um componente fundamental.
“Uma emergência ambiental que tem um grande impacto na saúde pública pode ter um efeito perigosamente desestabilizador num país”, diz Joanna Tempowski, cientista do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Isso é especialmente verdade quando um governo já está operando num clima de inquietação social e instabilidade política, como foi o caso da Costa do Marfim na época. Uma resposta rápida, bem coordenada e politicamente neutra é, portanto, essencial, e uma boa comunicação entre as diferentes agências é vital.”
Em 9 de dezembro de 2014, um acidente com um petroleiro nos manguezais de Sundarban, em Bangladesh, levou à liberação de 350 mil litros de combustível pesado no rio Shela e no ecossistema de mangue — uma formação natural considerada patrimônio mundial da UNESCO e protegida pela Convenção Ramsar.
Uma missão conjunta de resposta das Nações Unidas e do governo de Bangladesh foi rapidamente formada, enviando especialistas nacionais e internacionais para avaliar a situação. Ao final, a missão recomendou medidas de preservação e mitigação em todas as rotas marinhas significativas, a fim de minimizar o risco de outra colisão de veículos e potenciais vazamentos de petróleo.
Em maio e junho de 2018, a Unidade Conjunta de Meio Ambiente enviou uma equipe de especialistas para lidar com preocupações associadas à estabilidade da represa de Hidroituango, na Colômbia. A medida foi uma resposta a um pedido de assistência do próprio governo.
Uma série de deslizamentos, combinada a níveis crescentes de água no reservatório da represa, levou a um risco significativo de ruptura da barragem. As áreas rio abaixo, com uma população de até 120 mil habitantes, foram evacuadas.
A equipe da Unidade foi liderada por um profissional da ONU Meio Ambiente e teve a participação de dois especialistas mobilizados pelo Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia e pela Agência Suíça para o Desenvolvimento e a Cooperação. O Centro Conjunto de Pesquisa da União Europeia ofereceu, a distância, serviços de análise ambiental.
Os especialistas deram orientações ao governo sobre operações em tempo real das represas, facilitando o processo de tomada de decisões durante a emergência. A equipe também forneceu recomendações de longo prazo sobre a mitigação de riscos.
Para mais informações sobre a Unidade Conjunta de Meio Ambiente, entre em contato com Emilia Wahlstrom: wahlstrom@un.org.
Fonte: ONU BRASIL