Uma pesquisa, publicada hoje na revista Nature, revelou que o derretimento de geleiras causado pelas mudanças climáticas deixará uma área, com mais do que duas vezes o tamanho da Irlanda, completamente exposta.
Os pesquisadores modelaram o futuro dessas geleiras, bem como o terreno que elas deixariam para trás, em cenários de baixa e alta emissão de gases de efeito estufa. Os resultados, sugerem que mesmo no cenário mais otimista, uma área de geleira com o dobro do tamanho da Irlanda poderia derreter até o final do século, gerando um novo tipo de ecossistema.
Essas áreas podem fornecer novos habitats cruciais que devem ser protegidos: a colonização por plantas pode levar ao aumento do armazenamento de carbono em um momento em que as florestas em outros lugares estão sendo destruídas, ao mesmo tempo em que podem fornecer novos habitats para animais ameaçados por mudanças climáticas em altitudes mais baixas, diz o principal autor Jean-Baptiste Bosson, glaciologista do Conservatório de Áreas Naturais de Haute-Savoie (ASTERS), um grupo de conservação com sede em Annecy, na França, à revista Nature.
Os habitats emergentes que se formarão com o recuo do gelo apresentam desafios e oportunidades para os esforços de conservação. As geleiras alpinas fora da Antártida e da Groenlândia cobrem atualmente cerca de 650.000 quilômetros quadrados.
Elas fornecem água no verão para quase 2 bilhões de pessoas, bem como para ecossistemas em todo o mundo, e sua retirada forneceu evidências impressionantes dos perigos do aquecimento global.
“Essa pode ser uma das maiores mudanças no ecossistema do nosso planeta”, diz Bosson.
Bosson e seus colegas projetam que cerca de 78% do terreno recém-exposto seria em terra, enquanto 14% e 8% por cento das áreas livres de gelo ocorreriam em regiões marinhas e de água doce, respectivamente.
O estudo fornece orientações úteis para cientistas que estão trabalhando para entender como microrganismos, plantas e animais se movem em espaços intocados, diz Francesco Ficetola, zoólogo da Universidade de Milão, na Itália, que estuda ecossistemas glaciais.
O que é necessário daqui para frente é uma integração dessas análises globais com estudos ecológicos detalhados que criem uma linha de base para rastrear a evolução desses novos habitats, diz Ficetola. “Isso nos permitirá desenvolver uma previsão mais precisa do que acontece em cada área degelo do planeta.”
Para Bosson, o estudo é mais um lembrete do que está em jogo enquanto o mundo trabalha para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. “Estamos em um ponto de inflexão para as geleiras”, diz ele. “Podemos salvar algo como 75% do gelo atual até o final deste século, mas temos que agir.”
Fonte: Ecycle