O lançamento mundial da iniciativa Lithium Valley Brazil, na bolsa de valores de Nova York, Nasdaq, nessa terça (9/5), marcou a entrada do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, no mapa global na cadeia de lítio.
A iniciativa, liderada pelo governo de Minas Gerais em conjunto com o Ministério de Minas e Energia (MME), tenta atrair investimentos internacionais para exploração do lítio no norte mineiro, que concentra a maior reserva desse mineral no Brasil.
O lítio é considerado essencial para a transição energética, uma vez que é matéria-prima de baterias para veículos elétricos e para a cadeia de geração de energias renováveis. O mineral deve ver sua demanda crescer 40 vezes nas próximas duas décadas.
“Hoje lançamos o Vale do Lítio brasileiro, que vai ajudar no desenvolvimento do país e contribuir com a transição energética mundial. A transição energética é um dos eixos principais do desenvolvimento do nosso país”, afirmou Vitor Saback, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral.
A missão da secretaria é colocar de pé uma agenda de mineração sustentável, com prioridade para minérios críticos para transição energética.
Além do papel na transição energética, os agentes envolvidos na iniciativa defendem que a exploração de lítio em Minas Gerais tem baixo impacto ambiental, pois pode ser abastecida com quase 100% de energia renovável, e não utiliza químicos poluentes em seu processo.
“O Brasil demonstra que além de preservar e conservar seu território, ele exporta sustentabilidade de diversas formas, dando ao mundo meios de se descarbonizar”, completou Sabak.
O país ainda discute os efeitos da devastação em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais. Uma comissão externa foi criada este ano para acompanhar o pagamento de compensações e exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha preocupa comunidades locais, que pediram a atuação do ministério público.
O “Vale do Lítio”, em Minas Gerais, já possui quatro mineradoras – todas listadas na Nasdaq – desenvolvendo projetos de exploração do mineral no Jequitinhonha: Sigma Lithium (Canadá), Atlas Lithium (EUA), Lithium Ionic (Canadá) e Latin Resources (Australia).
Hoje, somente a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) está em operação na região.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), defendeu mudanças na regulação do estado para atrair investimentos na mineração do lítio.
Atualmente, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) discute o Projeto de Lei (PL) 1.992/20, do deputado Doutor Jean Freire (PT), que cria o Polo Minerário e Industrial do Lítio nos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri.
“Estamos colocando regras objetivas, mensuráveis. Estamos revendo toda a legislação, a regulamentação para que esse processo seja mais rápido ainda”, disse o governador.
“Provavelmente teremos nossa aprovação de desenvolvimento até o próximo ano, onde iniciaremos a construção no primeiro trimestre de 2025, e concluiremos em 2026”, anunciou Chris Gale, CEO da Latin Resources.
Ana Cabral Gardner, CEO da Sigma, que já investiu R$3 bilhões no projeto na região, afirma que a companhia tem planos de triplicar as operações em Minas Gerais.
“A escala é absolutamente superlativa. Vamos começar a fornecer lítio suficiente para abastecer 617 mil carros elétricos (…) Estamos investindo para triplicar as operações da operadora no próximo ano”, contou.
“Seremos capazes de abastecer 1,6 milhão de carros elétricos (…) O material é espetacular. É de pureza ultra alta, battery grade, e vai direto para os fabricantes de baterias, passando por um processo de refino muito fácil”, explica.
Gardner também destacou os esforços entre governo estadual e federal para impulsionar a indústria.
“Sinto-me orgulhosa de ver a colaboração inédita do governo federal do presidente Lula e governo do estado. Este é um belo exercício de planejamento nacional”.
Blake Hylands, CEO da Lithium Ionic, contou que aguarda a licença para o início das operações ainda este ano.
“Nossa meta é produzir duzentas mil toneladas de concentrado já em 2025 ou final de 2024”.
O CEO da Atlas Lithium, Marc Fogassa, destacou o recente memorando de entendimento que a companhia firmou com a Mitsui.
O acordo poderia dar direito de compra de 100% da produção da Atlas Lithium de sua planta planejada em Minas Gerais, com capacidade de produção de 150 mil toneladas de concentrado de lítio por ano.
O Vale do Lítio compreende os municípios de Araçuaí, Capelinha, Coronel Murta, Itaobim, Itinga, Malacacheta, Medina, Minas Novas, Pedra Azul e Virgem da Lapa, com cerca de 45 depósitos do mineral — cada um com potencial 20 vezes maior que reservas de outras regiões –, segundo estudos do Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Além da projeção global, projeto mineiro busca também atrair investimentos, negócios e empregos para o Vale do Jequitinhonha, transformando o panorama socioeconômico de mais de 980 mil habitantes em 55 municípios.
O secretário Vitor Saback, representando o ministério, também participa de agendas com investidores e autoridades em Nova Iorque, como o embaixador Adalnio Senna Ganen, Cônsul do Brasil em Nova Iorque e o embaixador Ronaldo Costa, Representante Permanente do Brasil em Nova Iorque.
Outras reuniões com investidores também estão marcadas até o fim da semana para apresentar o potencial brasileiro na mineração, bem como as possibilidades de desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Com informações do MME
O Cônsul Adalnio Senna Ganen chamou a atenção para a oportunidade do Brasil em ser um importante fornecedor de lítio para os Estados Unidos, com segurança ambiental e social.
“Todos esses projetos estão comprometidos com a preservação do meio ambiente e responsabilidade social”.
Recentemente, o governo americano, por meio do Inflation Reduction Act, estabeleceu subsídios a veículos elétricos que possuam 80% dos minerais utilizados em suas baterias oriundos dos EUA ou de países com quem possui acordo de livre comércio.
Apesar do termo, o Departamento do Tesouro americano já sinalizou que pretende ampliar a interpretação do significado do acordo de livre comércio, o que poderia incluir, eventualmente, o Brasil, com quem o país já possui acordos comerciais.
Fonte: EPBR